“ Á memória de uma Senhora que eu conheci e amei”

Nasceu em Vila Boim a 24/12 de 1923, teve uma infância de princesa naquela época, pessoa inteligente, culta e demasiado religiosa. Vinda de família abastada naquela altura, casou, teve 6 filhos, passou nos anos 40 a 50 para a classe média, trabalhava dia e noite para poder sustentar a numerosa família com o marido, trabalhavam os dois, o que para a época era raro ou um luxo.
Viviam naquela casa 10 pessoas, Pai, Mãe, 6 filhos, avó e uma empregada (na altura “criada”). Não tinham uma vida abundante mas, viviam bem.
Criou e educou todos os filhos sem excepção de igual modo, religiosamente à antiga.
Uns aproveitaram o pouco dinheiro que ainda havia das heranças e formaram-se, outros nem tanto, é que para os mais novos, já não havia tanta abundância e chegaram até onde puderam.
Como em todas as famílias, não era fácil na altura gerir um orçamento para uma família tão numerosa. Mas esta senhora fez das tripas coração, para que nada faltasse. Levou uma vida ambulante devido à profissão dela e do marido, daí o nascimento dos filhos. Um em Idanha-a-Nova (Castelo Branco), outros em Vila Boim, outro em Estremoz, outros em Elvas.
Mais tarde rumou a África com os mais novos e o marido, à procura de uma vida melhor?...
Regressaram à terra “Elvas”.
Depois de tantos anos passados, analisando a fundo, depois de tantos sacrifícios, de tanto sofrimento, de tanta luta, será que merecia morrer daquela maneira? (52 anos!)
Se existe Deus não terá feito justiça naquela altura.
A família divide-se, hoje dessa família restam 5, espalhados pelo país e pelo mundo.
Deixou-nos uma grande “Herança”. A herança do saber, do respeito, da humildade, da amizade e do amor, e até a herança da própria doença que a levou ao sofrimento até morrer.
Bastaria hoje a presença dessa “Senhora” para que tudo tivesse sido diferente. Quis Deus que assim fosse!
Eu sou um dos filhos dessa “Grande Senhora”, que admirei e que recordarei para sempre.
Pediu-me um dia “ Nunca deixes os teus irmãos sozinhos”, eu era considerado na família quase como um 2º pai. Tenho-me esforçado à minha maneira para o conseguir mas com pouco êxito. Mas não desisti e lutarei até voltar a ter aquela família e aquele conceito que ela tanto apregoava de “União Familiar”.
Isto é apenas uma história e passagem de vida igual a tantas outras, piores ou melhores.
A dignidade, a bondade, a lealdade, a simplicidade, o amor profundo pelos filhos e pelos outros, fizeram desta criatura uma “Grande Senhora e Mãe”

Uma homenagem aos filhos da minha Mãe.
Obrigado por serem meus irmãos.
Até sempre.